Durante décadas, as camisas de futebol eram peças simples, sem escudos ou marcas, utilizadas apenas pelos jogadores ou torcedores de forma básica. Somente nos anos 1990, com a globalização e o marketing esportivo, essas camisas passaram a ser itens de moda, pertencimento e fonte de receita bilionária para clubes e marcas.
Em 2024, o modelo “torcedor” de camisas de clubes da Série A custava entre R$ 209 e R$ 370, com média de R$ 301, enquanto a versão “jogador” chegava a até R$ 599. O salário mínimo, de R$ 1.412, fazia com que uma camisa oficial representasse quase 28% da renda mensal de um trabalhador — uma proporção muito maior do que a observada na Inglaterra, em torno de 5%, o que evidencia o peso do custo no Brasil.
Boa parte do valor final reflete a elevada carga tributária, entre 35% e 40%, incluindo ICMS, IPI, PIS, Cofins, IRPJ e CSLL. Para produtos importados, esse percentual pode superar 50%. O dólar alto, os insumos importados, os custos logísticos e a cadeia de intermediários (fabricantes, marcas, distribuidores, lojas) ampliam ainda mais o preço ao consumidor.
Estima-se que os custos se distribuam da seguinte forma: produção R$ 40–60; impostos até R$ 160; royalties para o clube entre R$ 30–60; lucro da marca R$ 70–110 e das lojas R$ 50–80. Ou seja: quem mais lucra com a venda de camisas não são os clubes — e sim o Estado e os intermediários.
As versões oficiais se dividem em versão torcedor (mais acessível), versão jogador (mais tecnológica e cara) e versões retrô ou match‑worn (camisas usadas em jogo), que podem alcançar até R$ 5.000 em leilões.
O fenômeno das camisas “tailandesas” oferta réplicas de alta fidelidade (escudo, tecido, costura) por R$ 80–130, quase um terço do preço das oficiais. Apesar do nome, muitas são fabricadas na China e reproduzem com precisão modelos atuais das grandes marcas.
Em fóruns como Reddit, torcedores afirmam que, se não houvesse versão mais barata, muitos sequer comprariam qualquer camisa:
“Sem a opção pirata, eles não iam comprar nada”
“Dependendo de onde for… um colega comprou uma original por mais de 400 reais… uma igual, tailandesa, custou 120 reais e ele acha absurda a diferença”
Esses relatos ilustram que a pirataria não é motivada por desrespeito ao clube, mas sim por acessibilidade econômica. O boato de que cada camisa falsificada seja uma camisa oficial não vendida é contestado por torcedores:
“O cálculo desses pseudo prejuízos é de um mal‑caratismo imenso. Quem compra pirata não compraria se houvesse apenas a original…”
Esse mercado informal cresce por necessidade, mas também acarreta impacto social: muitas oficinas operam com mão de obra informal e, em casos extremos, trabalho análogo à escravidão, conforme denúncias em áreas como o Bom Retiro, em São Paulo.
Ainda assim, para muitos torcedores, a camisa representa paixão, identidade e pertencimento: o escudo supera o preço. Muitos preferem ter uma réplica fiel do que nada, e atribuem à falta de alternativas oficiais a migração para o mercado informal.
Para mudar esse cenário, especialistas e entidades sugerem melhor fiscalização contra a pirataria e uma reforma tributária que reduza o “custo Brasil” do setor. A PEC da reforma tributária prevê a substituição de ICMS, PIS e Cofins por um sistema unificado, com alíquotas mais simples e possivelmente menores — ainda que sua implementação seja futura e gradual.
Alguns clubes e fornecedoras já testam alternativas mais acessíveis: a Puma oferece modelos “estádio” a R$ 179,90, enquanto a Adidas lançou a linha “fan jersey” por R$ 179,99 para clubes como Flamengo, Internacional e Cruzeiro — cerca de 50% do valor da camisa de jogador.
Clubes como o Fortaleza já chegaram a oferecer desconto de R$ 10 para quem apresentasse uma camisa falsa na compra da oficial, numa tentativa de estimular a migração para o canal legítimo.
Ainda assim, a maioria dos lucros vai para as marcas e intermediários, e o torcedor de baixa renda segue excluído do acesso ao produto oficial. Para que essa relação se torne mais justa, é necessário:
A camisa de futebol no Brasil é muito mais do que vestimenta: carrega histórias, pertencimento e emoção. Mas enquanto o mercado mantiver os preços distantes da realidade da maioria, os clubes se afastam de sua base, e o torcedor real permanece à margem. Somente com compromisso e revisão do modelo de negócios será possível criar um sistema mais justo, sustentável e conectado à torcida — inclusive para que a camisa oficial volte a ser símbolo acessível de paixão.
Fonte: Youtube.com
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